Só fui pensar em parto lá pelo quinto mês, parecia algo muito distante… eu não sabia quase nada. Uma amiga de meu marido, a Laura, tinha uma bebezinha de já um ano que havia nascido em casa. Na época do seu nascimento eu achei o máximo este exemplo, mas também achei meio loucura. Bom, quando chegou a minha vez, meu marido (Paulo) lembrou-se dela e nos colocou em contato, ela foi super prestativa a me ajudar, me orientar, me indicar profissionais… daí eu comecei a ficar com medo e tomar consciência de que aquela bebezinha sapeca que estava na minha barriga teria que sair um dia, e a questão era: como??? Pois é, parece pergunta de criança, mas a gente volta a se fazer neste momento e realmente se preocupa com isso.
Sim, fiquei com medo e construí algumas barreiras para evitar falar sobre o assunto e me fiz um pouco de boba com a Laura, não deixando nossos diálogos (via e-mail) fluírem. De alguma forma eu sabia que não, mas alimentei dentro de mim uma concepção equivocada de que esta história de parto natural e ainda mais em casa era moda, vaidade... Claro que não falei isso para o Paulo, pois ele rebateria na hora, então fui alimentando essas coisas quietinha. Tenho até vergonha em confessa-las aqui...
Queria deixar correr o tempo e ver no que dava. Meu marido, sempre muito respeitoso e compreensivo com as minhas escolhas, sempre tinha um jeito todo carinhoso de me lembrar em perguntar as coisas para a Laura e responder aos seus e-mails. Bem, a Laura me colocou em contato com uma rede virtual de mulheres, muitas mulheres, cujo objetivo era discutir assuntos relacionados, sobretudo, ao parto. Neste grupo além de mulheres cheias de dúvidas como eu, haviam também as mães experts pela experiência e também profissionais como enfermeiras obstetrizes e doulas. No grupo fiquei bem mais à vontade, não me sentia cobrada por ninguém e ainda podia acompanhar todas as discussões que apareciam quietinha. Resultado: viciei na lista de fóruns e obtive muita, mas muuuuita informação mesmo!
Mas ainda tinha medo. Cheguei ao ponto de não querer saber nada sobre parto e fechar livros que eu havia comprado, me recusei a ler e no fundo, no fundo queria que alguém me dissesse: "Você vai fazer assim e pronto!" Mas não tinha ninguém que dissesse isso pra mim. Naquela época (e hoje dou graças à Deus) mudei de emprego e fiquei sem convênio médico. Meu pré-natal foi todo feito pelo Iamspe e o médico era só praxe pra receitar, fazer guias de exames e dar atestados, tentei conversar com ele algumas vezes sobre a minha pretensão de fazer um parto natural e ele desconfiou da minha coragem e me pareceu estar bem desatualizado também.
Durante um tempo convivi com uma sombra espessa daquelas barreiras que eu havia construído e eu precisava me livrar dela. Eu tinha medo, e não era da dor. Eu não sabia exatamente o que era. Ao mesmo tempo em que eu estava convicta que o melhor seria optar por um parto natural, já que eu e a bebê apresentávamos boa saúde para isso, eu também tinha medo de umas tais 'complicações' surgirem no decorrer. Puxa, a gente cresce ouvindo cada coisa assustadora: que faltou oxigênio, que era muito grande, que passou da hora, que o cordão estava no pescoço… um horror. Então eu ainda insistia muito nesta tecla: e se ocorrer alguma complicação? Até que postei na lista de discussão essas dúvidas e mulheres muito especiais conseguiram destruir todas as sombras que me cegavam:
"Creio que a resposta (ao menos a que eu daria) seria a de que, na cesárea, qualquer complicação é vista como fatalidade, destino, uma pena. No parto normal, qto mais normal/natural for, mais soa como irresponsabilidade, inconseqüência, loucura...
Dureza ter que assumir as rédeas na saúde e na doença, não??!"
Era ISSO que eu precisava ouvir: tomar as rédeas e assumir a responsabilidade! E isso me estremecia: a responsabilidade e a condenação da sociedade e família. Daí eu não tive mais dúvida: eu não me faria de boba e ingênua para entregar a decisão do MEU parto nas mãos de um médico por pura conveniência!!!
Outra mulher respondendo às minhas angústias:
"Oi Fabiana, calma. É claro que sempre devemos pensar nos prós e contras de qualquer decisão mas também não sairíamos de casa se focarmos só os riscos. Em primeiro lugar é bom ver o tempo, condição e situação dos relatos que você ouviu. Se você se informar sobre a causa de intervenções num parto, as fases de um parto e outros dados em sites confiáveis já vai identificar facilmente o que pode ter gerado essas complicações que te contaram. Relatos do amigo da prima de não sei quem, é bom ignorar, as histórias sempre mudam um pouco a cada vez que é contada. Com certeza vc terá muitas outras respostas para as tuas dúvidas. Além disso acho bacana você explorar os arquivos da lista, principalmente ver relatos de parto e blogs das meninas que participam daqui. Não existe nenhum tipo de parto totalmente seguro, aliás nada na vida é totalmente seguro, mas com certeza vc ficará mais tranquila vendo as estatísticas e aprendendo mais sobre o parto.
Tendo um pré natal bem feito, estando assistida por bons profissionais e não tendo problemas de saúde que possam interferir, parir é natural e vc pode ficar tranquila."
É bem verdade que muitas vezes estes relatos são um 'disse que me disse' danado, e neste ponto da minha busca, eu já sabia que muitos médicos forjam a justificativa da cesárea no prontuário (por conta de possíveis fiscalizações) e enganam as mães fazendo-as acreditar que são incapazes de parir. Puxa, a cada resposta que lia sentia uma força imensa se edificando dentro de mim!
Reconheci que o que eu deveria fazer era tomar as rédeas e assumir o controle e a direção, e outra mulher me estendeu a mão:
"Bravo!
Terá mesmo e o parto é só o início das grandes escolhas da maternidade."
A partir desse dia a certeza já tomava conta de mim, o meu MEDO era de ir parar num hospital e passar por todos aqueles procedimentos e tal... Como mãe eu já havia escolhido que não deixaria minha filha passar por certos procedimentos desnecessariamente.
Eu e Paulo fomos visitar a Casa do Parto de Sapopemba e foi amor à primeira vista. Um ambiente limpo, bonito, tranquilo e acolhedor… uma casa! Sem falar das enfermeiras maravilhosas que nos receberam. Contudo, sabia que uma cesárea é fundamental em alguns casos então eu tinha que pensar num plano B, daí fomos visitar alguns hospitais da região e todas as visitas só fizeram aumentar a certeza de que eu queria um parto NÃO hospitalar.
Pois bem, eu já tinha essa certeza mas tinha que conquistar o apoio da minha mãe, pois mãe é mãe, e eu me sentiria muito mais segura e confiante com o apoio dela. Foi um processo paralelo ao meu, tudo o que eu descobria compartilhava com ela e assim fui ganhando o seu apoio.
Li muitos relatos de partos, acompanhei postagens de mulheres sobre suas dúvidas e angústias, li todas as respostas, pesquisei links indicados, procurei livros citados, assisti palestra e entrevistas de médicos e profissionais humanizados, busquei dados científicos, assisti vídeos de parto (normais e cesáreos)… enfim… mergulhei numa busca insessável de conteúdos que me ajudassem a fortalecer a minha escolha.
Sim, neste momento eu já estava empossada, já estava lutando pelo MEU parto!!!
Devo agradecer imensamente às pessoas que me ajudaram a tomar essa decisão, que me disseram que eu era capaz, que a natureza tinha um plano maravilhoso para nós, mulheres. Agradeço ao meu amado Paulo que me incentivou, guiou e acolheu o tempo todo com sua paciência, carinho e amor sem iguais. À Laura, por me colocar em contato com pessoas tão especiais, à quem também devo desculpas pelos e-mails não retornados. Às 'Maternasp' que tanto contribuíram com suas discussões e fóruns. Às enfermeiras da Casa do Parto de Sapopemba por me receberem tão bem. Aos meus pais que com toda a sua simplicidade e receios, confiaram na minha escolha e me motivaram a realizá-la.
Sem essas pessoas o MEU parto poderia não ter sido tão maravilhoso... mas este relato ainda está no forno e é melhor deixá-lo para outro post...
Até lá!